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segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

TIGRE, O PEREGRINO E A RAPOSA.


               Na Índia havia um tigre que costumava atacar os viajantes que passavam pela floresta onde ele morava. As tribos locais então resolveram capturá-lo para evitar uma tragédia, pois o animal estava cada dia mais agressivo. 
              O tigre foi capturado e deixado na beira de um caminho para que lhe fosse fornecido alimento e água. Mas o animal não se conformou e em vão lutava desesperadamente para sair daquela armadilha. 
              Numa certa manhã passava por ali um peregrino que se compadeceu e lhe deu algum alimento, mas o tigre se mostrava furioso e mordia as barras de ferro com raiva, queria sair daquele lugar e voltar para floresta. Depois de comer a porção oferecida pelo peregrino pensou: "este peregrino me parece um bom homem e posso convencê-lo a libertar-me". Então disse ao peregrino:
               - Piedoso homem, solte-me desta gaiola pois preciso voltar para minha família. 
              O peregrino ficou comovido, mas estava com medo daquela enorme fera e disse-lhe:
               - Não posso fazer isso porque que se o fizesse o amigo, que está com muita fome, certamente me comeria.
                - Ora, eu jamais faria isso com uma pessoa tão boa que me tenha ajudado num momento tão difícil, retrucou o tigre. - Pelo contrário, ser-lhe-hei eternamente grato. 
                Tanto chorou, jurou  e suspirou que o peregrino resolveu arriscar-se e libertá-lo. Em seguida deu-lhe de beber da água que trazia para sua viagem. 


             Já em liberdade, o tigre disse: 
              - Lamento, mas estou com muita fome e terei de comê-lo para saciar-me. Na verdade você foi muito bobo em confiar nas palavras de um preso faminto e agora nada pode fazer para impedir-me.
              Em vão o peregrino tentava convencê-lo a seguir seu caminho e voltar para floresta. Resolveu então apelar pela ajuda da árvore que lhes fazia sombra, mas esta respondeu-lhe friamente: 
              - De que se queixa você? Eu estou aqui ha muito tempo, sempre dando sombra a todos que passam sem nada receber em troca. O que me fazem é quebrar meus galhos e arrancar minhas folhas. Você foi um bobalhão e agora não deve chorar por sua ingenuidade.
              O peregrino ficou muito triste com aquela resposta quando avistou, ao lado de um rio, uma vaca que pastava. Resolveu pedir-lhe ajuda, mas o resultado não foi nada melhor. Disse-lhe a vaca: 
             - Você é um tolo se espera por gratidão de alguém. Olhe para mim que forneci leite de boa qualidade aos filhos do meu dono e só recebi capim magro em troca; agora que estou velha e não produzo a quantidade de leite que precisam eles me abandonaram e tenho que comer qualquer coisa para não morrer de fome. 
              O peregrino, não vendo mais ninguém, dirigiu-se à estrada pedindo sua opinião.
               - Meu caro viajante - disse a estrada - noto que é realmente um tolo em imaginar que soltando esta fera teria sua gratidão. Veja o meu caso; estou aqui sendo útil a todos: ricos e pobres, grandes e pequenos, todos passam sempre por aqui e jogam cinzas, pontas de cigarro, latinhas, garrafas descartáveis, lixo de toda a espécie sem se importar como me sinto. 
                Com tantos depoimentos desanimadores o peregrino já se preparava para morrer.
                Atras de uma moita havia uma esperta raposa que a tudo observava sem dizer nada. Vendo a situação do peregrino resolveu intervir. 
                 - E então, senhor peregrino; está parecendo um peixe fora d'água!
                 O peregrino explicou-lhe tudo o que tinha acontecido.
                 O tigre só olhava e esperava o momento de sua farta refeição.
                  Depois de ouvir sua história disse-lhe a raposa:
                 - Mas em que embrulhada o senhor se meteu. Mas faça-me o favor de contar tudo de novo que não entendi nada. Parece uma grande trapalhada. 
                 O peregrino repetiu a mesma história por várias vezes e a raposa sempre dizia que não havia entendido. 
                O tigre já não aguentava aquela história sendo repetida sem que a raposa entendesse. Para abreviar o assunto e poder comer finalmente o peregrino resolveu explicar ele mesmo para que a raposa fosse logo embora. 
                - Esse palerma não está sabendo explicar. Eu estava preso naquela jaula e no momento que ele passava por aqui ficou com pena de mim e me soltou. 
                Fingindo estar com muito medo daquelas garras a raposa disse:
                 - Naturalmente, senhor; finalmente estou compreendendo, mas minha cabeça está um pouco zonza; Vejamos: o tigre estava no peregrino e a jaula vinha passando, Foi isso que aconteceu?  O tigre, já revoltado, mas disposto fazer a raposa entender disse: 
                 - Você é outra estúpida, mas hei de fazê-la entender porque sou muito inteligente. Ouça: eu sou o tigre, esse é o peregrino, e esta é a jaula. Então a raposa percebeu que seu plano estava dando certo e disse: 
                 - Ainda não entendi onde o senhor tigre estava. 
                 Nesse momento o tigre perdeu a paciência, entrou na jaula e disse: 
                  - Estava aqui dentro preso, sua ignorante!. 
                  A raposa imediatamente trancou a parta da jaula e disse: 
                  Agora finalmente entendi tudo e dessa forma as coisa voltam a ser como estavam. 
                 O peregrino agradeceu à raposa e segui seu caminho. 
Nicéas Romeo Zanchett