Um conto japonês
Por Nicéas Romeo Zanchett
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Numa pequena aldeia japonesa vivia um casal que muito se amava e estavam sempre felizes.
Todos os dias o marido saía muito cedo para trabalho caminhando pela rua onde poucas pessoas encontrava.
Tudo corria às mil maravilhas até que num certo dia, quando andava pensativo e olhando para o chão, encontrou um pequeno espelho de bolso. Imediatamente abaixou-se e o apanhou. Qual não foi seu espanto quando ali viu a foto do seu velho pai já falecido. Depois de muito olhar e matar a saudade embrulhou aquele pequeno tesouro num lenço e o guardou no bolso para que ninguém mais o vice.
A noite, ao voltar para casa, tratou de esconder seu precioso retrato. Escolheu um local onde ninguém imaginaria encontrar algo: atras de um armário antigo que havia na cozinha.
Todos os dias, antes de sair e quando chegava do trabalho, dava um jeito de ver a fotografia sem que sua mulher percebesse.
Sua mulher já andava desconfiada com alguns novos hábitos do marido, mas nada falou. Até que numa noite ficou espionando a chegada do fiel companheiro. Como sempre, ele chegava e ia ver a fotografia do seu falecido pai. Dessa forma ela descobriu que ali havia um segredo.
Como todos sabem não pode haver segredo entre marido e mulher japonesa. Todos sabem também que os japoneses são fisionomicamente muito semelhantes e isso muitas vezes causa confusão de identidade.
Ela esperou o marido dormir e foi ver o que havia de tão importante atrás daquele armário. Ao olhar o espelho seu susto foi imediato; seu marido tinha outra mulher e aquela era a fotografia que provava tal fato.
Durante a noite ela não conseguiu dormir e logo pela manhã interpelou o marido;
- Então você anda me traindo com outra! e não adianta negar porque tenho a prova.
- Como pode pensar isto? você é a única em minha vida e sabe muito bem disso.
- Mentiroso! Traidor! aqui está a prova; uma foto dela que encontrei atrás do armário.
- Calma mulher; esta foto é do meu falecido pai.
- Como pode ser tão cínico?
E a discussão não tinha fim.
Naquele momento, por ali passava um velho monge que todas as manhãs andava pela rua meditando e orando. Diante de tão feroz discussão, resolveu intervir para apaziguar o casal. Aproximou-se e da porta perguntou o que estava acontecendo para tal discussão.
A mulher, ainda cheia de raiva, explicou:
- Meu marido está me traindo com outra; encontrei uma foto dela que ele mantinha escondida atrás do armário.
- Deixe-me ver, disse o velho monge. E apanhou o pequeno espelho.
- Ora, minha senhora, não é nada do que está pensando; Esta foto é do meu irmão, que também era monge e morreu no mar, durante uma tempestade, quando pescava. Esta foto lhe pertencia e deve ser levada ao local onde ele faleceu para que ele finalmente descanse em paz. E foi embora levando a foto que depois atirou ao mar.
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MORAL DA HISTÓRIA
Às vezes julgamos pelas aparências e não aceitamos explicações. É preciso ter calma e sempre ouvir os dos lado da história para juntos chegar a um acordo.
Nicéas Romeo Zanchett