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domingo, 6 de agosto de 2023

UMA GAIOLA DE OURO

 .

 





            Era uma vez uma passarinho com penas muito coloridas. Um dia ele entrou no jardim de um palácio e, saltitando, começou a procurar nos canteiros de rosas alguma coisa para comer.  Depois de algum tempo voou para um coqueiro bem alto e pôs-se a cata alegremente. 

           O pequeno  príncipe, que a tudo observava, ficou encantado com sua beleza e trinado. Bateu palma e imediatamente apareceram os criados do palácio prontos para atender a algum novo desejo dele.

         - Quero que me tragam aquele lindo pássaro que está cantado naquele coqueiro. Seus olhos brilhavam como nunca antes os criados tinha visto. 

         Sua tia interferiu e tentou dissuade-lo.

         - Ora, meu caro príncipe, aquele pássaro é tão insignificante para um nobre como você! Com certeza seria bem mais interessante uma cacatua que é nobre e pertence à família dos papagaios, mesmo que não aprenda a falar. Ou então um casal de periquitos coloridos como as verdes folhas da primavera...

          O pequeno soberano não deu a menor atenção àquelas palavras; estava obcecado pelo pássaro colorido e gritou insistentemente: 

         - Tragam-me aquele passarinho de está cantando no coqueiro!

         Os criados apanharam uma  rede e saíram em perseguição do pequeno e indefeso pássaro.

         Um vento forte dificultava os criados, mas nem pensavam em desobedecer a ordem recebido de seu soberano. Depois de muito corre-corre e trabalho intenso o passarinho foi apanhado e colocado numa riquíssima gaiola de ouro, com bordas enfeitadas com pérolas. O bebedouro e o depósito para os alimentos eram feitos de ametista e e âmbar castanho.

         Por algum tempo, o indefeso passarinho foi o brinquedo favorito do pequeno soberano. Todos os dias , ele o levava a passear preso naquela linda gaiola. 

         O passarinho era muito bem tratado, mas sofria de solidão e nunca mais cantou. Ficava o tempo todo se debatendo contras as grades da gaiola ou ficava parado e muito triste.

         Depois de alguns dias o pequeno príncipe cansou-se do passarinho e ele, então, foi colocado no canto escuro de um pequeno quarto do palácio e logo foi esquecido por todos. Os empregados do palácio, talvez por pena do pequeno animal, sempre o alimentavam e tentavam animá-lo com conversas de incentivo. 

          Apesar de tudo, o pobre passarinho não cantava, era só desânimo e infelicidade. Ele sentia saudade do tempo em que andava pelas estradas cercadas por lindas árvores; pelos passeios que costumava dar  pelos campos verde e úmidos de arroz com muitos lavradores trabalhando sem camisa e de chapéu de palha, tão grandes como sombrinhas; sonhava com os rios barrentos e com as montanhas clara e cheias de plantas perfumadas. 

         Com todas essas lindas lembranças, como poderia cantar preso em uma gaiola? 

         O tempo passou e num certo dia o pobre pássaro prisioneiro, num canto triste, dirigiu uma súplica aos seus tiranos: 

          - Soltem-me! Por favor, por favor, soltem-me! Nunca lhes fiz mal e quero voltar a ser feliz! Meu coração está despedaçado! Por favor, deem-me a liberdade de volta!

           - Nossa! Que canção suave e triste! disse alguém e saiu correndo para levar a notícia ao pequeno rei. 

            Algum tempo depois, sem nenhuma reação, a a pobre ave compreendeu que eles não a tinham entendido o que lhes falara. Talvez tenham interpretado seu desespero como um cântico festivo e nada fizeram para atender sua súplica. Curvou-se no poleiro, de olhos tristes e entregou-se ao próprio destino infeliz. 

          Uma noite, o Pequeno rei teve um sonho, ou talvez um terrível pesadelo.  Depois de uma farta ceia onde lhe serviram chá numa tigela de jade, redonda e branca como a lua cheia e enfeitada de azaleias. Neste jantar ele comeu inúmeras sementes de girassol adocicado, flor de loto, melão e nozes cozidas. Tudo isso estava distribuído em ricas caixinhas envernizadas de amarelo-ouro com lindos desenhos.

          Em seguida, lhe disponibilizaram pêssegos dourados e aveludados, ameixas  purpúreas com enfeites de flores prateadas. Comeu também os mais variados e deliciosas pratos: Carne de porco preparado de várias maneiras diferentes; pedaços fatiados, feijões vermelhos, feijões brancos, brotos de bambu com cerejas, ovos, cogumelos, couve com nabo e cebola. Nesse mesmo banquete tinha à sua disposição: pratos recheados e galinha assada, peixe defumado, camarões e caranguejos fritos, sopa de grão de bico, além de inúmeras outras delícias ara o pequeno soberano escolher. 

         Ao final da ceia ainda foi lhe oferecido bolos com diversos sabres, doce de flores silvestres, chocolate, etc. 

         O príncipe se fartou de tudo até ficar tão cheio que nem podia se mover. Os criados, então, tiraram-lhe o guardanapo de seda bordada de seu pescoço e o puseram sentado.  O menino estava sonolento e nem pode ficar de pé. Os criados tiveram de trocar-lhe as roupas de seda bordada com dragões dourados, nuvens azuis e forrada com tecido bem macio. A camisa do pequeno soberano era de seda amarela e os sapatos de cetim vermelho com sola branca e grossa. Em seguida vestiram-no com pantalonas amarelas, amarrando-as nos calcanhares com fitas cor de rosa. 

         A cama do pequeno príncipe era feita de tijolos, no centro dos quais havia um pequeno fogão para aquecê-lo. Três macios colchões de seda amarela foram sobrepostos e forrados com vários lençóis de cetim - vermelho amarelo, verde, azul e lilás - e, cobrindo tudo isso, uma colcha de seda amarela com estrelas aplicadas. 

         O travesseiro do Pequeno príncipe era de folhas de chá. Havia, ainda, um cortinado de seda amarela, com uma lua grande e redonda, cujos raios prateados desciam em várias direções. 

            O Pequeno soberano adormeceu profundamente e sonhou: 

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           Estava dentro de uma gaiola muito grande! Os raios solares penetravam pelas grades, inundando-a de luz. Ele tentava, freneticamente, sair daquela prisão. Batia nas grades com toda a força! De repente, pareceu-lhe estar num bosque, cercado de raízes e troncos de árvores que se moviam e caminhavam em sua direção. Em vez de folhas, viu, nos galhos da árvore, penas, bicos pontiagudos e, também, olhos brilhantes! Não eram árvores, eram pássaros gigantescos!

                    O que julgara serem raízes de árvores, eram garras, e o que considerara troncos, eram pernas! Eram pássaros enormes, tão granes quanto os homens e ele era tão pequenino quanto um passarinho. 

         - Soltem-me, gritou. Vocês não sabem que eu sou o príncipe deste palácio  e que todos me devem obediência? Ordeno-lhes que me soltem!

          - Ouçam, ele começou a cantar, disse um pássaro para outro.

          - Não é uma canção muito melodiosa! Seu canto é muito  estridente! Aceite meu conselho: torça-lhe o pescoço e faça um bom assado. 

          -Oh, deixe-me sair! Por favor, por favor, deixem-me sair! chorava o pequeno príncipe, cheio de medo. 

          - Acho que agora seu canto está melhorando, observou um dos pássaros. 

          - Está ainda muito gritante! Ensurdecedor! comentou uma senhora passarinho, estufando o peito e levantando as asas para mostrar como era sensível. 

           - Se ele fosse meu, usaria suas calças de seda para forrar eu ninho. 

          - Oh, por favor, por favor, soltem-me! gritava o pequeno príncipe. 

         - Seu canto etá quase insuportável! Mas é impossível ficar ouvindo por muito tempo!

          No meio de muita confusão, de  pancadas, batidas de asas, os pássaros foram embora, deixando o pequeno soberano sozinho, na gaiola. 

           O menino continuava pedindo socorro, atirando-se de encontro às grades até ficar exausto e parar. Finalmente teve sede e some. Olhou, então, para o depósito de comida e para o bebedouro. Bebeu alguns goles de água e comeu uma migalhas de pão duro que ali encontrou. De vem em quando os pássaros vinham vê-lo. Alguns tentavam apanhá-lo pela grade com os bicos e as garras.

         No dia seguinte, já desperto, o pequeno soberano passou -o pensativo. Aquele pesadelo não lhe saída da cabeça! Seria possível que o ninho fosse tão confortável para o passarinho preso quanto era sua cama com cobertas bordadas com arco-íris, lua e estrelas? Seria possível que um pássaro gostasse tanto de amoras maduras e água fresca do riacho quanto ele gostava de pêssegos maduros e chá de flores silvestres? Seria possível que um pássaro ficasse tão amedrontado quando alguém tentasse agarrá-lo com as mãos? 

           A assim o pequeno príncipe ficou lembrando do que sentira quando estava vivendo aquele pesadelo. lembrou-se de sua capa de veludo azul que seria muito útil para qualquer pássaro usar em seu ninho. Esses pensamentos o fizeram ficar profundamente triste e envergonhado. Ficou imaginando quantos pássaros tiveram suas penas arrancadas para confeccionar suas lindas vestes. Nesse momento, lembrou do que sentira quando ouviu alguém dizer: 

          - Eu o depenaria. Suas roupas poderiam ser usadas no meu ninho. 

         Quando a noiteceu o pequeno príncipe foi para a cama pensando no passarinho que estava preso no palácio. Resolveu, então, que logo pela manhã mandaria soltá-lo. 

           Adormeceu e, mais uma vez, sonhou que estava preso numa gaiola dourada. Um grande pássaro apareceu e parou diante de sua gaiola e, com as garras, levantou o trinco abrido-lhe a porta!

           - Oh! que maravilha! chegou a hora de ser livre novamente. O pequeno soberano, emocionado, atirou-se ao espaço antes que aquele bondoso pássaro se arrependesse e o obrigasse a voltar para a gaiola. 

           Ficou um bom temo esvoaçando pelo quarto até encontra uma saída. Mas o importante é que estava livre novamente. Lágrimas de alegria rolaram de seus olhos e seu coração estava transbordando de felicidade. Seu coração sonhava com os campos e florestas que logo iria visitar.

          Finalmente consegui sair, mas era inverno e os jardins estava cobertos de neve que, em flocos, caia como se nunca fosse parar. Os pêssegos e as ameixas haviam desaparecido e o lago de lotos estava congelado, duro como um vidro. 

           O pequeno soberano nunca andara pela neve com tão pouca roupa. Durante o inverno, quando saía, usava roupas quentes, acolchoadas e nunca estava só; um criado carregava um pequeno fogareiro de porcelana, outro trazia um bule de chá quentinho, um terceiro segurava uma caixa envernizada com doces e o quarto trazia um grande  chapéu de palha para proteger sua cabeça da neve que caia permanentemente. Sentia-se tão pequeno e tão desamparado, num mundo tão grande e tão frio, mas, mesmo no inverno, ele poderia encontrar boa comida e água cristalina da montanha. Fico pensando onde poderia se aquecer. Correu pela neve durante algum tempo, deixando vestígios por onde passava. Suas pantalonas desamarraram-se e, cada vez mais, a neve lhe alcançava as pernas nuas. 

           Quando parou para descansar, viu  um bloco de neve despender-se de um galho de pinheiro e, se não tivesse pulado rapidamente, teria sigo esmagado. A situação ficava pior  à medida que o tempo passava. Começou a sentir-se  fraco e esfomeado. De vez em quando pedia socorro, mas sua voz trêmula era cada vez mais fraca. pestanejava frequentemente e suas lágrimas viravam gelo. Ele sabia que um soberano nunca devia chorar, mas que fazer se ele estava perdido, sem saber o rumo que devia seguir!

          Começava escurecer quando ele viu duas lanternas iluminando em sua direção. Imaginou que fosse algum criado ou o mordomo do rei, um senhor autoritário, mas bom. Talvez estivessem à sua procura e por isso traziam lanternas. O pequeno soberano tentou aproximar-se deles, mas estava tão cansado, tão enfraquecido que nem podia se mexer. 

          Qual não foi sua surpresa quando viu que aquelas duas lanternas, na verdade, eram os olhos de um animal enorme, agachado na neve,  um gato faminto!

          O pequeno príncipe, reunindo as forças que ainda lhe restavam, tentou correr. O gato, porém, de um puo, o alcançou e o agarrou com as patas almofadadas que, aos poucos, se transformaram em garras curvas, pontiagudas e frias. O gato, em seguida, deu-lhe uma pancadinha em um lado, depois no outro, e quando o menino pensou que i deixá-lo sossegado, ei-lo de volta para lhe aplicar um golpe forte, fazendo-o ver estrelas no meio daquela escuridão. 

          Naquele momento, porém, alguém o sacudia. Seria o gato, novamente? O Pequeno Rei abriu os olhos e viu uma senhora curvada sobre sua cama. Seu rosto estava estava estranho, parecia assutada. Aquela senhora pulara da cama assim que ouvira os gritos do pequeno soberano e, por isso, não tivera tempo de lavar o rosto e pintar as sobrancelhas de preto e os lábios de vermelho.

          - Acorde, acorde, meu Rei! Aquela senhora chorava ao mesmo tempo em que o sacudia para acordá-lo. - Foi um pesadelo, - acrescentou. 

          Você não é um gato? perguntou, enfim. Ainda não estava completamente acordado. 

          - Certamente que não, meu pequeno soberano! respondeu sua tia, um pouco ofendida. 

          O pequeno soberanos, desceu da cama. O quarto estava cheio de luz branca que vinha da  neve. O menino foi até a janela e viu que havia nevado muito durante a noite. As ameixas e as amoreiras estavam cobertas de neve que caia suavemente, tornando mais espessa a camada que já cobria os caminhos. As pessoas que por ali passavam, silenciosas e agasalhadas, pereciam estar calçados com sapatos de veludo branco.

             O pequeno Rei pensou no sonho e concluiu que, se soltasse o passarinho antes de terminar o inverno, ele sofreria, poderia até morrer. Foi, então, explicar ao pássaro por que não o soltaria naquela manhã. 

            - Quando o verão chegar eu o soltarei, disse-lhe. 

             Daquele dia em diante, o Pequeno Rei sempre levava folhar verde e frutas frescas para o passarinho bicar e, durante essas visitas, conversava gentilmente com ele. O passarinho parecia entendê-lo. Seus olhinhos tristes agora estava brilhantes e, embora não cantasse, chilreava, às vezes, como querendo dizer:

              - Muito obrigado. 

              Na primeira noite de verão, assim que a lua cheia começou a brilhar no firmamento, o Pequeno Rei foi dormir e sonhou, que a porta da gaiola estava aberta e ele em liberdade.

              Oh, quanta felicidade! Felicidade quase demasiada para uma criança suportar. As peônias estavam em flor, cada pétala uma grande concha. As borboletas azuis esvoaçavam ali sob os raios quentes e brilhantes do sol. Meio escondida na grama, o Pequeno Rei encontrou uma grande fruta purpúrea - uma amora! Como estava gostosa!

                  As teias de aranha, orvalhadas, brilhavam como uma escada celestial, cheia de lentejoulas, e haviam sido construídas para ele, como presente de aniversário. Como se sentia feliz! Tinha o sol para aquecê-lo, a brisa para apreciá-lo e as amoreiras para par alimentá-lo e as amoreiras para alimentá-lo.  Sabia que em cada pedaço de grama encontraria uma gota de orvalho, clara e cristalina, para beber. Como estava feliz!

                 O lago estava cheio de grandes folhas e de grandes flores de loto cor de rosa. O menino aventurou-se a remar em uma dessas folhas. Durante algum tempo ficou rodando, até alcançar uma flores. Ali, então, deixou-se ficar, feliz, tão feliz, a contemplar as borboletas gigantes, azuis e verde,  esvoaçando sobre sua cabeça, balançando, gentilmente, o rosado "barquinho" (folha de lótus).

               Agora, porém, não era a flor de lótus que o balançava nas águas. Era a sua tia que o sacudia gentilmente. 

              - Acorde, por favor, querido soberano! disse-lhe. E, embora parecesse impossível, era verdade; sua tia lhe sorria carinhosamente. O Pequeno Rei merecia aquele sorriso; ultimamente estava muito bondoso  com todas as pessoas do palácio. 

    Ao se levantar, porém, não quis esperar até depois do café para soltar o passarinho, que ansiosamente esperava na gaiola. Logo que se vestiu, tão depressa quanto pode, correu para o quarto onde estava pendurada a gaiola. Pã, pã, pã, faziam seus sapatos de cetim azul, enquanto ele andava pelos corredores. Puf, puf, puf, fazia o mordomo, gordo e idoso, que o acompanhava, com dificuldade.



              - Vim soltá-lo, murmurou enquanto levava a gaiola para fora.  Estava muito emocionado pelo seu próprio gesto. Por alguns momentos quis chorar, porque tinha adquirido uma grande amizade ao pequeno pássaro. Lembrou-se porém, que um Rei não deve chorar. Abriu a porta da gaiola e deu liberdade ao pequeno pássaro. 



               - O passarinho voou! gritaram os mandarins. 

              -  Já está tão longe que quase não o podemos ver, disseram as damas da corte que presenciavam aquele momento. 

                  Todos desejavam que o pequeno Rei deixasse de contemplar aquela pequena manch escura que se via no céu, cada vez mais alta distante que se via no céu. Queriam que  Rei finalmente pudesse entrar e tomar café.

         O pequeno rei, com a gaiola vazia nas mãos, olhava para o céu, olhava lá no alto, bem no alto do céu! Não podia, porém, ver mais nada. Ficaram, no entanto, no seu coração as notas de uma doce canção, de uma canção de amor e humildade, nascida em sua alma como um elo dourado a unir o coração de um passarinho ao de uma criança. 

QUEM AMA LIBERTA

Amar os animais é um sentimento muito nobre. 

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Adaptação de contos chineses, me dão muito prazer, especialmente para crianças. 

Nicéas Romeo Zanchett 



terça-feira, 29 de junho de 2021

O CASTELO E A MONTANHA DE OURO - Por Nicéas Romeo Zanchett

 


          Era uma vez um filho de um mercador que dissipava e esperdiçava todos os seus bens, chegando a ponto de não ter mais de comer.  Por isso pegou numa enxada e foi para o mercado para ver se alguém o contratava como trabalhador. Justamente neste momento aparaceu, em seu coche dourado, o mercador setenta veze mais rico que qualquer outra pessoa; logo todos os trabalhadores se espalharam em todas as direções, escondendo-se pelos cantos do mercado. O filho do mercador, que estava com muita fome, foi o único que ficou de pé no salão do mercado. 
          - Bom dia meu rapaz, queres trabalhar para mim? disse o mercador milionário. 
          - Naturalmente que quero, foi para isso que eu vim até aqui neste mercado.
          - E quanto pretendes ganhar?  
          - Se me der cem rubros por dia, é negócio concluído. 
          - Isso é um pouco caro!
          - Se acha caro, então procure alguém mais barato; mas o que eu sei é que estava aqui muita gente e foi o senhor aparecer  para que todos sumissem. 
           - Muito bem, venha me encontrar no porto amanhã de manhã bem cedo. 
            No dia seguinte pela manhã o filho do mercador foi esperar seu novo patrão no porto. O mercador milionário já ali o estrava esperando há um bom tempo. Foram para bordo e lançaram-se ao mar. Navegaram por longo tempo. No meio do mar apareceu uma ilha; nesta ilha havia montanhas muita altas, e na praia alguma coisa  que luzia com o fogo. 
          - Por acaso aquilo que estou vendo é fogo? perguntou o filho do mercador. 
          - Não é nada disso; aquilo é meu castelo de ouro. 
          Aproximaram-se da ilha, desembarcaram, e logo em seguida a mulher e a filha do mercador vieram ao seu encontro. A filha era belíssima, de uma beleza que nenhum homem poderia imaginar e nada poderia dizer. Depois de se saudarem mutuamente foram todos para o castelo e levaram o novo trabalhador; sentaram-se à mesa e começaram a comer, a beber, e  se divertir. 
         - Aceita um figo? disse o dono do castelo; hoje é só festa, o trabalho fica para amanhã. 
         O novo trabalhador, filho do mercador, era um rapaz louro, forte e alto, corado e de belo porte; logo apaixonou-se pela linda jovem. Ela levantou-se e saiu para a sala vizinha e, em seguida, o chamou em segredo e deu-lhe uma pederneira e um fuzil de aço. 
          - Tome isto, disse ela, se for necessário use-os. 
        No dia seguinte o mercador milionário pôs-se a caminho da alta montanha de ouro. Por muito tempo subiram, mas não chegaram ao cume; ficaram há uma certa distância do cume. 
          - Bem, disse o mercador m, antes de tudo vamos beber um bom gole. E o mercador deu-lhe um sonífero.  O trabalhador bebeu e adormeceu. 
          O mercador milionário desembainhou sua faca e matou-o sem piedade. Em seguida tirou-lhe as entranhas, pôs o rapaz no interior do cavalo juntamente com a enxada. Em seguida coseu a abertura e escondeu-se entre as moitas. 
            De repente desceram ao local uma porção de corvos de bico de ferro que agarraram a carcaça e levaram-na para o cume da  montanha, onde começaram a espicaçar e comer o cavalo e não tradaram a descobrir o rapaz que acordou e enxotou os corvos. Olhou para os lados e se perguntou: 
           - Afinal, onde estou? 
           O mercador milionário gritou-lhe lá de baixo: 
           - Aí  na montanha de ouro, pegue na enxada e cave.
          Ele assim o fez atirando o ouro para baixo, e o mercador ia-o pondo em vagões. À tarde ele tinha enchido nove vagões de puro ouro. 
           - Por hoje, é quanto basta, gritou o  mercador milionário;  muito obrigado pelo seu trabalho que foi excelente. Adeus. 
          - Mas então, como fico eu? 
          - Você faça o que quiser. Noventa e nove como você morreram aí mesmo. Você completará a conta dos cem. 
           Apos falar isso, o mercador milionário virou as costas e foi embora. 
          - Que hei de fazer agora? pensou o filho do mercador; é praticamente impossível descer desta montanha. Certamente vou morrer de fome. 
           E ali ficou na montanha, e por cima dele esvoaçavam os corvos de bico preto que farejavam a sua presa. Pôs-se a pensar com tudo aquilo acontecera e então lembrou-se como a linda menina o tinha chamado de parte e dado a pederneira e o fuzil de aço e, então, repetiu as palavras: "Tome isto e se se  achar em precisão, use-o."
           Com certeza ela não disse isto sem rasão. Vamos lá ver.
          O filho do mercador pegou na pederneira  e no fuzil de aço e bate-os um no outro. Imediatamente apareceram-lhe dois loiros heróis. 
         - O que quer? o que quer? 
         - Quero que me levem desta montanha para a beira mar. 
         Mal ele tinha acabado de falar, pegaram nele por baixo dos braços e levaram-no com todo o cuidado pela montanha abaixo. O filho do mercador passeou pela praia até que apareceu um navio que ia passando pela ilha. 
         Ooooooh! pessoal do navio, preciso de ajuda. Levem-me convosco!
          Não, meu amigo, não podemos; se pararmos aqui perderemos cem milhas. 
         E os marujos passaram ao largo da ilha, mas naquele mesmo instante,  ventos contrários começaram a soprar; levantou-se um terrível furação. 
         - Olhe lá marinheiros, aquele sujeito não é qualquer pessoa, seria melhor voltarmos e tomá-lo a bordo. 
          Resolveram, pois, voltar atrás. Pararam à beira da praia, tomaram o filho do mercador e levaram-no para o seu país natal. 
        Passou muito tempo até que o filho do mercador pegou sua enxada e novamente foi ao mercado; e ali ficou esperando que alguém o contratasse. De novo o mercador milionário passou na sua carruagem de ouro, e todos os demais trabalhadores, assim que o viram, dispersaram-se em todas as direções e esconderam-se pelos cantos. O filho do mercador foi o único que ficou. 
           - Queres trabalhar para mim? perguntou o mercador milionário
           - Se quiser que eu trabalhe, pague-me duzentos rubros por dia e diga-me qual é o trabalho.
           - Um pouco caro, não acha? 
           - Se acha caro, vá procurar outro mais barato. Bem viu que havia muita  gente por aqui, e desde que sua carruagem apareceu todos fugiram. 
           - Então está bem. Venha amanhã ao porto me encontrar. 
           No dia seguinte encontraram-se no porto, embarcaram e armaram a velas em direção á ilha; ali chegando comeram e beberam à vontade durante um dia inteiro. No dia seguinte levantaram-se e foram para a montanha de ouro. 
           Chegando ali, o mercador milionário pegou o seu copo e disse-lhe: 
           - Vamos tomar um gole antes de iniciar os trabalhos. 
           - Espere lá, me caro anfitrião. Como chefe deves beber primeiro; deixe-me oferecer-lhe a bebida da minha garrafa. 
             E o filho do mercador, que já tinha se prevenido com um sonífero, encheu um copo e deu-o ao mercador milionário. Tão logo bebeu, este caiu em sono profundo. 
             O filho do mercador matou o pobre cavalo, tirou-lhe as entranhas, colocou seu anfitrião dentro do cavalo juntamente com a enxada; em seguida coseu a ferida e escondeu-se nas moitas. Imediatamente os negros corvos de bico de ferro desceram da montanha, levaram a carcaça do cavalo para o cume e começaram a espicaçá-lo. O mercador milionário acordou e olhou à sua volta perguntado: 
            - Onde estou eu? 
            - Você está na montanha de ouro, gritou-lhe o filho do mercador. Pegue a enxada e cave ouro, se cavar muito eu lhe direi como sair daí. 
          O mercador milionário pegou a enxada e cavou, cavou até encher vinte vagões de ouro. 
           - Pare! Já é bastante, disse o filho do mercador, muito obrigado pelo seu trabalho, e adeus. 
           - E então, como ficou eu? 
           - Ora, saia daí como puder. noventa e nove pessoas da sua casta já morreram aí na montanha. Você completará a conta sendo o centésimo. 
           O filho do mercador levou os vinte vagões e foi para o castelo de ouro, com a formosa jovem, filha do mercador milionário. E assim tomou posse de todas as suas riquezas e em seguida vei morar na cidade com toda sua família.
            Quanto ao mercador milionário ficou na montanha onde os corvos de bico de ferro o devoraram e espicaçaram seus ossos. 
Adaptação inspirada em Contos populares Russos. 

Por Nicéas Romeo Zanchett 

        

terça-feira, 10 de setembro de 2019

A HISTÓRIA DE ROMA E O RAPTO DAS SABINAS.




               Para melhor entender  o rapto das sabinas vamos relembrar um pouco da história de Roma; como se deu o aparecimento de Rômulo e Remo. 
                 Ela começa por um período mais ou menos clássico ou lendário, durante o qual reinaram sete reis sucessivos  (de 754 a 510 a. C.). 
                  
                  A história mais antiga dos povos e das cidades se confunde geralmente com a lenda de Rômulo e Remo. Essa lenda se entrelaça com aquela da famosa guerra de Troia, cantada também pelo poeta Homero, na Ilíada, que foi travada mais de mil anos antes de Cristo, na longínqua Ásia menor. 
              Conta-se que, quando os gregos, vencedores, conquistaram e arrasaram aquela cidade, todos os heróis troianos foram massacrados, com exceção de Enéas, filho de Aquiles e da deusa Vênus. Ele conseguiu fugir da cidade em chamas, com seu filhinho Lulo e o velho pai Aquiles e, depois de uma longa e aventurosa viagem, chegou às costas do Lácio, onde vivia o povo dos latinos. Com a ajuda de outros povos locais, combateram contra aqueles e em particular contra os Rútulos, cujo rei, Turno, queria desposar lavínia, filha do rei dos latinos. Também Enéas aspirava á mão daquela princesa e, por desejo de Turno, homem forte e violento, realizou-se um duelo. Enéas, certo de seu destino de herói, atacou impiedosamente seu adversário e em breve sua espada caiu sobre Turno e matou-o. Enéas casou-se com Lavínia, tornando-se rei dos latinos. Lulo, seu filho, fundou uma cidade, denominada Alba, que, devido às suas casas dispostas em longa fileira, foi depois chamada de Alba a Longa
                  Desta cidade não tivemos notícias até o século VII a.C., quando, segundo a lenda, subiu ao trono de "Alba a Longa", Numitor. Amúlio, irmão do rei, mediante uma conspiração, depôs Númitor do trono e declarou-se rei de "Alba a Longa", obrigando Rea Sílvia, única filha do irmão, a tornar-se Vestal. As Vestais, inteiramente consagradas ao culto da deusa Vesta, não podiam casar, sob pena de morte. E essa foi a sorte de Rea Sílvia, quando Amúlio soube que ela tivera dois filhos do deus Marte. Segfundo os usos daquela época, a mulher foi enterrada viva e os dois gêmeos atirados ao Rio Tibre. 
                   Mas o servo, que deveria executar a ordem, pusera o cesto, onde se encontravam os dois meninos, sobre as águas do rio. O cesto encalhou entre os caniços das margens e os pequenos foram encontrados por uma loba que, ao invés de dilacerá-los, amamentou-os e protegeu-os. 
                 Mais tarde, o pastor Fáustolo recolheu-os, levou-os para sua choupana e criou-os como filhos e deu-lhes os nomes de Remo e Rômulo. Ao chegarem à idade adulta, Remo e Rômulo conheceram sua origem e em seus corações acendeu o desejo de vingar-se do usurpador. Mataram Amúlio e reconduziram ao trono Númitor, que desde longos anos mofava prisioneiro. 
               Em agradecimento, Númitor doou aos sobrinhos uma área de terra à margem esquerda do Tibre, não distante do ponto em que o pastor os encontrara. Os dois irmãos puseram mãos à obra, traçando, antes de tudo, o sulco que iria limitar a nova cidade. Era o dia 21 de abril do ano 753 A. C.  Como ambos desejassem dar o próprio nome à cidade, resolveram interpretar a vontade dos deuses, estabelecendo que aquele dos dois que visse voando maior número de pássaros seria o escolhido. Subiram a dois morros diferentes; Remo foi para o Aventino e viu sete abutres, e Rômulo, sobre o Palatino, avistou doze aves. A cidade de Rômulo passou a chamar-se Roma. Isto é o que conta a lenda. Mas é provável que o nome Roma significasse "a cidade do rio", e, em tal hipótese, dever-se-ia conjeturar que o nome de Roma não deriva de Rômulo, mas Rômulo e Roma:  Rômulus, o mítico fundador da cidade, o primeiro cidadão romano. 
                   Remo, desesperado, devido à vitória do irmão, ultrapassou, em gesto de desespero, o sulco; e Rômulo, tomado de cólera, matou-o impiedosamente, de mostrando, assim, que a ninguém era permitido ultrajar Roma. 
                  Quando tudo ficou pronto Rômulo acolheu os primeiros habitantes em seu pequeno povoado: eram bandidos salteadores obrigados a fugirem de suas terras, pastores sem morada fixa, homens rudes e ferozes. Foram esses os primeiros romanos, os progenitores daquele povo que iria conquistar o mundo. 
                   Dessa forma, Rômulo foi o primeiro rei de Roma, e conduziu várias guerras contas as aldeias vizinhas. Isso feito, dedicou-se também às terefas de paz. Dividiu a população em tribos e fez-se assistir por uma assembleia, denominada "senado", porque constituía de cidadãos já em idade avançada. 
                Mas a população da cidade era formada exclusivamente por homens; então (sempre segundo a lenda), Rômulo organizou uma festa em honra de Netuno e convidou para esta, as famílias de um povo limítrofe, os Sabinos . E, quando os jogos estavam mais animados do que nunca, Rômulo fez um sinal aos romanos, e estes atiraram-se para cima das moças sabinas e, entre o espanto dos sabinos, levaram-nas rapidamente para sua cidade. 
                 Os sabinos tomaram armas contra os romanos, mas as mulheres sabinas se intrometeram (estavam gostando da nova vida) entre os pais e os maridos, os quais acabaram confraternizando e resolveram fundir-se num só povo, embora conservando cada qual seu próprio rei.  Tito Sácio, que era rei do sabinos, foi morto, e Rômulo passou a reinar sozinho. estava, porém, convencionado que ao morrer este, seria eleito um rei sabino. E isso aconteceu quando, durante uma revista militar, desabou um tremendo temporal e Rômulo despareceu misteriosamente. Espalhou-se a notícia de que ele tinha assassinado pelos seus inimigos políticos, mas os senadores afirmam que o deus Marte o raptara em um carro de fogo, levando-o para o céu. 
                Rômulo foi, então, considerado um deus e adorado sob o nome de Quirino. O novo  rei sabino foi Numa Pompílio; religioso e pacífico, ele deu sábias leis ao seu povo, dividiu o ano em doze meses e erigiu um templo em honra ao deus Jano, cujas portas permaneceriam fechadas durante o tempo de paz e abrir-se-iam em tempo de guerra. 
                 O terceiro rei, Túlio Ostílio, foi, ao invés, belicoso. mandou arrasar "Alba a Longa", depois do combate entre os Horácios e os Curiácios. Os primeiros três irmãos romanos deveriam enfrentar em combate os segundos três irmãos curiácios. Dois dos Horácios já haviam tombado. O supérstite fingiu fugir, e os adversários passaram a persegui-los. Assim, ele pode enfrentá-los isoladamente e matá-los. 
              Anco Márcio, que sucedeu a Túlio Hostílio, era neto de Numa Pompílio. Foi um rei sábio e pacífico. Mandou construir a cidade e o porto de Ostia, a ponte Sublício e o cárcere Mamertino. 
              Os últimos três reis, Tarquínio Prisco, Sérvio Túlio e Tarquínio, o Sábio, foram etruscos. O primeiro, após haver usurpado o trono de Anco Márcio, derrotou os latinos e os sabinos. Mandou construir aquedutos, o Circo, o Fórum e a Cloaca Máxima. Sérvio Túlio foi o primeiro a criar moeda, por peio de cunhagem. Ampliou Roma, dando-lhe novas muralhas e deu ao povo uma constituição menos dura, o que lhe valeu a inimizade dos patrícios. Aproveitando-se do desconhecimento, o genro, Tarquínio, assassinou-o e tornou-se o último rei de Roma, sob o nome de Tarquínio, o Soberbo. Mandou matar cidadãos e sanadores e rodeou-se de um corpo de guardas armados daqueles fsci littri que, de origem etrusca, permaneceram para sempre como símbolo de autoridade e de justiça. 

               A República foi proclamada em 510, quando a população romana era, então, resultante da fusão dos romanes (tatinos), dos ticienes (sabinos) e dos luceres (etruscos). A implantação da república deu lugar à criação de novas funções, tais como o Consulado e a Ditadura. As lutas entre patrícios e plebeus duraram até o ano 300 da nossa era. Após consolidar seu interior, Roma passou à conquista da Itália (296 a 270) e, de 264 a 201 travou as duras guerras púnicas contra Cartago, que só terminaram com a destruição dessa grande rival, em 146 (terceira guerra púnica. A seguir, Roma reduziu a Grécia a província romana, intervindo no Oriente, mas passando a receber a influência benéfica dos helenos derrotados. Em breve tempo Roma se tornou senhora do mundo de então e, em 31 a. C. Otávio, seu grande general, foi proclamado imperador (imperatur), sob o nome de Augusto. Com a morte deste (em 14 depois de  Cristo) o poder supremo passou aos Césares (Tibério, Calígula, Claudio, Nero, etc.) e depois aos Flávios (Vespasiano, Tito e Domiciano). 
                

quarta-feira, 10 de abril de 2019

O LEÃO COM SEDE - Nicéas Romeo Zanchett


Um leão que vivia na savana africana, durante o período de seca, ficou perambulando à procura de água. Estava com muita sede ate que finalmente encontrou um lago. 
Correu imediatamente para matar toda aquela sede que o devorava, mas chegando lá, ao olhar a água viu a imagem de um enorme leão. Era sua imagem, mas ele julgou que fosse de um inimigo. Então afastou-se imediatamente sem beber nada. 
Por várias vezes visitou o lago, mas sempre via a imagem de um leão e fugia. 
Os dias se passaram e ele não bebia nada. A sede aumentava muito e ele corria o risco de morrer.
Finalmente tomou a decisão; iria enfrentar aquele leão a qualquer preço, pois, caso contrário morreria mesmo. Ele aproximou-se do lago e quando tocou a água aquela imagem de leão desapareceu.
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Moral da história: Não devemos fugir dos perigos imaginários. Muitos pensamentos negativos predominam a ponto de impedir alcançar aquilo que se almeja. Enfrente seus medos e verá que são menores do que você.  

terça-feira, 9 de abril de 2019

O CAVALO E O PORCO - Nicéas Romeo Zanchett



Um certo fazendeiro tinha muitos cavalos, mas ambicionava comprar um belo animal do seu vizinho. Era um cavalo de corrida que sempre vencia. 
Depois de muito insistir, seu vizinho concordou em vendê-lo por uma bela soma. Foi um dia de muita felicidade. Porém, passados trinta dias, o cavalo adoeceu; ele então chamou o melhor veterinário da cidade. 
Disse o veterinário: - Seu cavalo está com uma grave virose; vou receitar este remédio que deverá tomar durante três dias. Entretanto, se ele não melhorar é melhor que seja sacrificado para não contagiar os outros cavalos. Volto daqui a três dias. 
O porco assistiu e escutou toda aquela conversa. Os remédios foram dados, mas o cavalo não melhorava. O animal estava muito desanimado, então, o porco se aproximou dele e lhe disse: 
- Caro amigo, se você não se levantar vai ser sacrificado amanhã. Faça um esforço e levante.
- Vamos lá, amigo, levante se não vai morrer! faça um esforço que eu te ajudo. 
No terceiro dia o veterinário voltou, e vendo que o cavalo ainda estava mal, disse ao seu dono: - Não adianta, ele precisa ser sacrificado para não contaminar os outros. Em seguida foi embora. 
O porco, vendo aquilo, aproximou-se do cavalo e lhe disse: - Amigo, é agora ou nunca; vou ajudá-lo levantar-se. Então o cavalo fez um esforço e levantou-se. Para provar que já estava bom saiu correndo pelos campos. O porco, com o amigo recuperado e sem risco de ser sacrificado, ficou muito feliz. 
De manhã, bem cedo, o fazendeiro chamou seu filho e lhe disse: - Vamos dar uma festa e convidar o veterinário. Mate o porco e compre bebidas para comemorarmos. 

Moral da história: Nem todo o bem que se pratica é reconhecido. 

sexta-feira, 16 de junho de 2017

O CAMPONÊS E A SERPENTE - Por Nicéas Romeo Zanchett




               Um velho camponês muito bondoso andava pela fazenda quando viu uma fumaça vindo da floresta. Montado em seu cavalo entrou pelo bosque e foi até aquele local para ver de perto o que estava acontecendo. Viu que ali havia uma fogueira acesa e junto a ela uma grande serpente que tentava escapar do fogo. As chamas estavam aumentando e cercando a serpente que tentava fugir da morte certa. Quando ela viu aquele homem arriscou-se a pedir ajuda. 
               - Meu caro senhor, estou desesperada. Preciso de ajuda se não vou morrer.
               - Calma senhora serpente. Não se preocupe que irei ajudá-la. Disse-lhe o camponês. 
               As serpentes tem fama de serem animais perigosos e traiçoeiros por seu veneno mortal. No folclore popular elas passaram a ser consideradas inimigas de todos os outros animais. Mas na verdade elas tem grande importância no equilíbrio da natureza. Se não fosse assim não existiriam. 
               "Quem semeia boa ações sempre colhe bons resultados", pensou o bondoso camponês. Em seguida pegou um saco que trazia consigo e amarrando-o a uma vara comprida estendeu-a por cima das chamas  para a serpente. Esta, já sentindo-se aliviada, pulou imediatamente para dentro do saco. 
             Após tê-la salvo da morte, o camponês já se preparava para partir e então disse à serpente: - Agora pode continuar seu caminho e cumprir seu destino junto a toda essa natureza. Pensou consigo mesmo que, apos este episódio, a serpente teria alguma gratidão para com os homens.
               Estava saindo quando a serpente o interpelou: - Espera um pouco senhor bom feitor. Eu preciso cumprir meu destino antes que se vá.
               - E que destino é esse de que falas? 
               - Senhor, vou inocular meu veneno em seu cavalo e no senhor. 
               - Mas isto é ingratidão, respondeu-lhe o camponês. 
               - Ora essa! pagar boas ações com más ações e benefícios com ingratidão é o que o senhor e todos os outros humanos fazem todos os dias. 
               - Dizes isso, mas não podes provar; é uma afirmação caluniosa, respondeu-lhe o camponês. Se conseguir provar aceitarei seu castigo e pagarei pelas culpas de meus semelhantes. 
              - Eu aceito o desafio e provarei o que estou afirmando. Vamos ouvir o que diz aquela vaca leiteira que está li pastando. E juntos foram até a vaca e pediram sua opinião.
             A vaca então lhes falou: - Eu tenho uma triste experiência; sempre fui explorada pelo meu dono; tenho sido-lhe útil fornecendo-lhe leite, manteiga, queijo; mas agora que estou velha e que já não consigo ser como antes, ele me pôs para pastar e engordar, pois vai me mandar para o açougueiro que irá matar-me e assim poderá comer minha carne. Isso certamente é que se chama de pagar o bem com o mal. 
                Diante de tal declaração a serpente, tomando a palavra disse:  
                - Que me dizes agora bondoso camponês? Devo seguir seu costume e tratá-lo como devo. 
                O camponês, bastante intrigado com a resposta da vaca, pensou rapidamente e respondeu: 
                - Isto só pode ser um caso isolado, vamos buscar outra resposta. 
                - Com todo o gosto, respondeu a serpente; interroguemos esta árvore que aqui está. 
                A árvore que havia testemunhado toda aquela discussão, deu seu parecer sem exitar: 
                - Há muito tempo que cheguei à conclusão que os homens sempre pagam boas ações com más ações. Eu dou abrigo a todos os viajantes que passam por aqui; dou-lhes sombra, deliciosos frutos para comer e um ótimo líquido para beber; e, contudo esquecem disso e cortam meus galhos para fazer cabos de ferramentas e até lenha para suas fogueiras; sei também que meu destino é o mesmo de outras irmãs que tiveram seu corpo fatiado em tábuas na serraria. Acho que isto é a mais covarde das formas de pagar o bem com o mal. 
                Naquele momento passava por ali um velho cão. A serpente então dirigiu-se  a ao animal andarilho e pediu: 
                - Senhor cão, gostaríamos de ouvir a sua história de vida. 
                Um pouco espantado com tal pedido ele assim falou:
              - Minha história de vida?  Acho que não vai gostar, pois é muito triste. E continuou: Passei toda a minha vida ao lado de um fazendeiro. Todos os dias saíamos para caçar e eu o ajudava sempre, muitas vezes correndo grandes riscos. Sempre que ele estava por perto eu mostrava minha alegria abanando minha cauda. À noite ficava de plantão, tomando conta da casa, para que ele pudesse descansar sem perigo. Agora que estou velho ele me mandou ir embora e cuidar da minha vida. Neste momento estou indo para a floresta onde pretendo morrer em paz. 
                A serpente então perguntou ao camponês se ele estava satisfeito ou queria outra prova.
                 Diante de tantas provas o camponês estava totalmente confuso e sem argumentos. Mesmo assim, esperando escapar ao perigo de ser picado, disse o seguinte: 
                 - Peço mais um favor e prometo que será o último: Quero ser julgado pelo primeiro animal que encontrarmos. Gosto muito da minha vida e não quero perdê-la por ter-lhe feito um bem. 
               Neste momento eis que surge uma velha raposa que costumava andar por ali. A serpente então deteve-a para por fim à discussão. 
        A raposa quis saber qual o assunto que os incomodava tanto, ao que o camponês prontamente respondeu: 
                - Eu salvei esta serpente da morte na fogueira e em retribuição ela quer picar a mim e ao meu cavalo; e ainda diz que é a forma certa de retribuir o bem que lhe fiz. 
           - Se ela quer proceder contigo como procedes com os outros é melhor não pedir nada extraordinário, respondeu a raposa; mas para que eu cabalmente possa servir de juiz, diga-me qual o serviço que lhe fizestes. 
                Pensando que esta seria a oportunidade de defender-se, o camponês contou-lhe tudo o que se passara; disse que tinha salvo a serpente da morte e agora ela estava querendo vingança. 
               - O que! disse a raposa com uma gargalhada;    Queres então que eu acredite que uma serpente tão grande coube nesse saco tão pequeno? Isto é impossível! 
               Tanto o camponês como a própria serpente lhe afirmaram que fora exatamente assim.; mas a raposa não quis acreditar. Por fim disse: 
                - Não adianta insistir que nenhuma palavra irá me convencer; mas irei acreditar se a serpente entrar novamente no saco e então darei minha opinião. 
                 - Com muito goto, respondeu a serpente, e em seguida entrou no saco.
                 Então a raposa disse ao camponês: 
                 - Agora tens em teu poder a vida do teu inimigo; e a mim parece que não te custará muito decidir o que deves fazer a um monstro tão ingrato. 
                 O viajante então, atando a boca do saco, passou a bater com uma vara até esmigalhar a serpente. 
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MORAL DA HISTÓRIA: É preciso ter prudência e não confiar nas boas intenções de um inimigo.
Nicéas Romeo Zanchett

domingo, 11 de junho de 2017

A HISTÓRIA DE SANSÃO E DALILA - Por Nicéas Romeo Zanchett


Adaptação de Nicéas Romeo Zanchett 
A RIXA DE SANSÃO COM O POVO FILISTEUS
                      Por muito tempo os hebreus tiveram que viver sem um rei. Em seu lugar haviam homens sábios e valentes com poderes de juízes que os guiavam na obediência das leis  e os defendiam dos seus inimigos.  Um desse juízes se chamava Sansão que era famoso por sua extraordinária força com a qual defendeu os hebreus contra os filisteus, considerados como maus e cruéis. 
                    Sansão era tão forte que em certa ocasião enfrentou um leão agarrando-o pelas mandíbulas e estrangulando-o como se fosse um cordeirinho. 
                    Seu ódio pelos filisteus não era em vão. Em certa ocasião os cruéis filisteus conseguiram prendê-lo e manietá-lo. Sem reagir, Sansão deixou que fizessem tudo o que quiseram. Mas, depois de bem amarrado, fez um grande esforço e arrebentou todas as correntes como se fosse fios de linha; em seguida apossou-se de uma mandíbula de burro e usando-a como se fosse uma espada matou  mais de dois  mil filisteus. 
                   Em outra ocasião os filisteus preparam-lhe uma armadilha. Era noite e Sansão estava a sós e numa cidade inimiga. Os filisteus o amarraram na porta da cidade e  já contavam alegremente o sucesso de seu feito, certos de que não conseguiria escapar. 
                   Aquela cidade, como tantas outras daquela época, era bem protegida por uma enorme e alta porta, tão alta como a torre de um castelo. Mas nada disso adiantou. Sansão apoiou seu ombro na porta e a arrancou com fechadura de bronze e tudo; em seguida saiu correndo pelos campos dirigindo-se para uma montanha como se estivesse carregando uma cesta de frutas. 
DALILA E SUA TRAIÇÃO 
                 Sansão conheceu uma mulher chamada Dalila e encantou-se por ela. Sua intenção era honesta, mas não sabia que aquela mulher era traiçoeira e perversa. Para enganá-lo, na primeira oportunidade que teve aproximou-se de Sansão fingindo ser sua sincera amiga. Não sabia ele que aquela mulher havia acertado com seus inimigos que iria aniquilá-lo pela quantia de mil moedas. 
                 Depois de se mostrar muito carinhosa, Dalila perguntou-lhe qual o segredo de toda aquela força que possuía dizendo o seguinte: - Sansão, eu o admiro muito por sua força, pois não existe nenhum laço que seja capaz de prendê-lo; você é tão forte que se desfaz de qualquer amarra como se fosse um simples fio de seda; por muito amá-lo gostaria de saber se existe alguma forma de resistência que poderia detê-lo. 

                  Sansão então contou-lhe a seguinte história: - Só existe uma forma de prender-me: Eu não conseguiria escapar se fosse amarrado com sete cordas feitas de pele de boi ainda fresca e úmida; isso me transformaria num homem tão fraco como qualquer um. 
                 Seus inimigos então providenciaram as sete cordas e o amarraram, mas bastou uma pequena sacudidela para que as cordas se rompessem em pedaços. 
                 Mas Dalila, traiçoeira e persistente, tornou a perguntar-lhe como seria possível subjugá-lo. 
                 Sansão então já sabendo que trava-se de uma armadilha  disse-lhe: -Acredito que seria necessário nove cordas em vez de sete. 
                 Voltaram a amarrá-lo e desta vez com nove cordas, mas foi só um pequeno esforço e elas arrebentaram-se em pedacinhos. 
                 Dalila, como sempre muito ardilosa deixou passar algum tempo. Sempre carinhosa com Sansão ela se mostrava a mais fiel das amigas. 
                 O tempo passou e um dia, sem querer,  Sansão deixou escapar seu segredo...
                 - Ora Dalila, minha força está nos meus longos cabelos  que nunca foram cortados.
               Dalila não disse nada. Esperou que ele adormecesse, pegou uma tesoura cortou todo o seu cabelo o mais rente que pode. 
               Ao despertar, percebeu que estava careca; seus cabelos haviam sido cortados e ele perdera sua força. 
               Os filisteus não perderam tempo, trancaram-no num cárcere e lhe arrancaram os olhos. Em seguida levaram-no para um pátio onde havia a roda dos presos. Ali o pobre e infeliz Sansão passava os dias dando voltas como se fosse um cavalo cego! 
                Com isso os filisteus sentiram-se vitoriosos e esqueceram que os cabelos voltariam a crescer e com eles a força de Sansão. Quanto mais seus cabelos cresciam mais aumentava sua força. 
A VINGANÇA FINAL DE SANSÃO
                Chegou o dia em que os filisteus celebrariam seus feitos numa grande festa. Depois de muito terem comido e bebido trouxeram o cego Sansão para para divertirem-se, fazendo dele o alvo de suas zombarias.
                No palácio havia mais de três mil pessoas, contando mulheres e crianças. Todos se divertiam e riam do pobre prisioneiro e de sua desgraça por não poder mais enxergar. Como estava sego Sansão era conduzido pela mão por um pobre garoto filho de escavo. 
                O garoto que conduzia Sansão era seu admirador, mas nada falava para não ter a mesma sorte. Sabendo disso Sansão lhe disse: - Meu amigo, conduza-me até o meio das duas colunas da grande sala para que eu possa descansar um pouco apoiado nelas. Você poderá deixar-me ali e ir brincar com seus amiguinhos que todos estão bêbados e nem irão perceber. Aquelas duas colunas apoiavam a grande abóboda do palácio onde acontecia a festa.

                 Feito isso, Sansão esperou que o garoto se retirasse em em seguida apoiou-se nas duas colunas, concentrou-se e invocou ao seu Deus que lhe restituísse todas as sua forças. Abraçou, então,  as duas colunas ao mesmo tempo e gritou aqui morrerei com todos os filisteus.  Em seguida derrubou as colunas com a abóboda sobre si e seus inimigos filisteus. Ali ficou sepultado para sempre com seus inimigos. 
Nicéas Romeo Zanchett