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domingo, 6 de agosto de 2023

UMA GAIOLA DE OURO

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            Era uma vez uma passarinho com penas muito coloridas. Um dia ele entrou no jardim de um palácio e, saltitando, começou a procurar nos canteiros de rosas alguma coisa para comer.  Depois de algum tempo voou para um coqueiro bem alto e pôs-se a cata alegremente. 

           O pequeno  príncipe, que a tudo observava, ficou encantado com sua beleza e trinado. Bateu palma e imediatamente apareceram os criados do palácio prontos para atender a algum novo desejo dele.

         - Quero que me tragam aquele lindo pássaro que está cantado naquele coqueiro. Seus olhos brilhavam como nunca antes os criados tinha visto. 

         Sua tia interferiu e tentou dissuade-lo.

         - Ora, meu caro príncipe, aquele pássaro é tão insignificante para um nobre como você! Com certeza seria bem mais interessante uma cacatua que é nobre e pertence à família dos papagaios, mesmo que não aprenda a falar. Ou então um casal de periquitos coloridos como as verdes folhas da primavera...

          O pequeno soberano não deu a menor atenção àquelas palavras; estava obcecado pelo pássaro colorido e gritou insistentemente: 

         - Tragam-me aquele passarinho de está cantando no coqueiro!

         Os criados apanharam uma  rede e saíram em perseguição do pequeno e indefeso pássaro.

         Um vento forte dificultava os criados, mas nem pensavam em desobedecer a ordem recebido de seu soberano. Depois de muito corre-corre e trabalho intenso o passarinho foi apanhado e colocado numa riquíssima gaiola de ouro, com bordas enfeitadas com pérolas. O bebedouro e o depósito para os alimentos eram feitos de ametista e e âmbar castanho.

         Por algum tempo, o indefeso passarinho foi o brinquedo favorito do pequeno soberano. Todos os dias , ele o levava a passear preso naquela linda gaiola. 

         O passarinho era muito bem tratado, mas sofria de solidão e nunca mais cantou. Ficava o tempo todo se debatendo contras as grades da gaiola ou ficava parado e muito triste.

         Depois de alguns dias o pequeno príncipe cansou-se do passarinho e ele, então, foi colocado no canto escuro de um pequeno quarto do palácio e logo foi esquecido por todos. Os empregados do palácio, talvez por pena do pequeno animal, sempre o alimentavam e tentavam animá-lo com conversas de incentivo. 

          Apesar de tudo, o pobre passarinho não cantava, era só desânimo e infelicidade. Ele sentia saudade do tempo em que andava pelas estradas cercadas por lindas árvores; pelos passeios que costumava dar  pelos campos verde e úmidos de arroz com muitos lavradores trabalhando sem camisa e de chapéu de palha, tão grandes como sombrinhas; sonhava com os rios barrentos e com as montanhas clara e cheias de plantas perfumadas. 

         Com todas essas lindas lembranças, como poderia cantar preso em uma gaiola? 

         O tempo passou e num certo dia o pobre pássaro prisioneiro, num canto triste, dirigiu uma súplica aos seus tiranos: 

          - Soltem-me! Por favor, por favor, soltem-me! Nunca lhes fiz mal e quero voltar a ser feliz! Meu coração está despedaçado! Por favor, deem-me a liberdade de volta!

           - Nossa! Que canção suave e triste! disse alguém e saiu correndo para levar a notícia ao pequeno rei. 

            Algum tempo depois, sem nenhuma reação, a a pobre ave compreendeu que eles não a tinham entendido o que lhes falara. Talvez tenham interpretado seu desespero como um cântico festivo e nada fizeram para atender sua súplica. Curvou-se no poleiro, de olhos tristes e entregou-se ao próprio destino infeliz. 

          Uma noite, o Pequeno rei teve um sonho, ou talvez um terrível pesadelo.  Depois de uma farta ceia onde lhe serviram chá numa tigela de jade, redonda e branca como a lua cheia e enfeitada de azaleias. Neste jantar ele comeu inúmeras sementes de girassol adocicado, flor de loto, melão e nozes cozidas. Tudo isso estava distribuído em ricas caixinhas envernizadas de amarelo-ouro com lindos desenhos.

          Em seguida, lhe disponibilizaram pêssegos dourados e aveludados, ameixas  purpúreas com enfeites de flores prateadas. Comeu também os mais variados e deliciosas pratos: Carne de porco preparado de várias maneiras diferentes; pedaços fatiados, feijões vermelhos, feijões brancos, brotos de bambu com cerejas, ovos, cogumelos, couve com nabo e cebola. Nesse mesmo banquete tinha à sua disposição: pratos recheados e galinha assada, peixe defumado, camarões e caranguejos fritos, sopa de grão de bico, além de inúmeras outras delícias ara o pequeno soberano escolher. 

         Ao final da ceia ainda foi lhe oferecido bolos com diversos sabres, doce de flores silvestres, chocolate, etc. 

         O príncipe se fartou de tudo até ficar tão cheio que nem podia se mover. Os criados, então, tiraram-lhe o guardanapo de seda bordada de seu pescoço e o puseram sentado.  O menino estava sonolento e nem pode ficar de pé. Os criados tiveram de trocar-lhe as roupas de seda bordada com dragões dourados, nuvens azuis e forrada com tecido bem macio. A camisa do pequeno soberano era de seda amarela e os sapatos de cetim vermelho com sola branca e grossa. Em seguida vestiram-no com pantalonas amarelas, amarrando-as nos calcanhares com fitas cor de rosa. 

         A cama do pequeno príncipe era feita de tijolos, no centro dos quais havia um pequeno fogão para aquecê-lo. Três macios colchões de seda amarela foram sobrepostos e forrados com vários lençóis de cetim - vermelho amarelo, verde, azul e lilás - e, cobrindo tudo isso, uma colcha de seda amarela com estrelas aplicadas. 

         O travesseiro do Pequeno príncipe era de folhas de chá. Havia, ainda, um cortinado de seda amarela, com uma lua grande e redonda, cujos raios prateados desciam em várias direções. 

            O Pequeno soberano adormeceu profundamente e sonhou: 

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           Estava dentro de uma gaiola muito grande! Os raios solares penetravam pelas grades, inundando-a de luz. Ele tentava, freneticamente, sair daquela prisão. Batia nas grades com toda a força! De repente, pareceu-lhe estar num bosque, cercado de raízes e troncos de árvores que se moviam e caminhavam em sua direção. Em vez de folhas, viu, nos galhos da árvore, penas, bicos pontiagudos e, também, olhos brilhantes! Não eram árvores, eram pássaros gigantescos!

                    O que julgara serem raízes de árvores, eram garras, e o que considerara troncos, eram pernas! Eram pássaros enormes, tão granes quanto os homens e ele era tão pequenino quanto um passarinho. 

         - Soltem-me, gritou. Vocês não sabem que eu sou o príncipe deste palácio  e que todos me devem obediência? Ordeno-lhes que me soltem!

          - Ouçam, ele começou a cantar, disse um pássaro para outro.

          - Não é uma canção muito melodiosa! Seu canto é muito  estridente! Aceite meu conselho: torça-lhe o pescoço e faça um bom assado. 

          -Oh, deixe-me sair! Por favor, por favor, deixem-me sair! chorava o pequeno príncipe, cheio de medo. 

          - Acho que agora seu canto está melhorando, observou um dos pássaros. 

          - Está ainda muito gritante! Ensurdecedor! comentou uma senhora passarinho, estufando o peito e levantando as asas para mostrar como era sensível. 

           - Se ele fosse meu, usaria suas calças de seda para forrar eu ninho. 

          - Oh, por favor, por favor, soltem-me! gritava o pequeno príncipe. 

         - Seu canto etá quase insuportável! Mas é impossível ficar ouvindo por muito tempo!

          No meio de muita confusão, de  pancadas, batidas de asas, os pássaros foram embora, deixando o pequeno soberano sozinho, na gaiola. 

           O menino continuava pedindo socorro, atirando-se de encontro às grades até ficar exausto e parar. Finalmente teve sede e some. Olhou, então, para o depósito de comida e para o bebedouro. Bebeu alguns goles de água e comeu uma migalhas de pão duro que ali encontrou. De vem em quando os pássaros vinham vê-lo. Alguns tentavam apanhá-lo pela grade com os bicos e as garras.

         No dia seguinte, já desperto, o pequeno soberano passou -o pensativo. Aquele pesadelo não lhe saída da cabeça! Seria possível que o ninho fosse tão confortável para o passarinho preso quanto era sua cama com cobertas bordadas com arco-íris, lua e estrelas? Seria possível que um pássaro gostasse tanto de amoras maduras e água fresca do riacho quanto ele gostava de pêssegos maduros e chá de flores silvestres? Seria possível que um pássaro ficasse tão amedrontado quando alguém tentasse agarrá-lo com as mãos? 

           A assim o pequeno príncipe ficou lembrando do que sentira quando estava vivendo aquele pesadelo. lembrou-se de sua capa de veludo azul que seria muito útil para qualquer pássaro usar em seu ninho. Esses pensamentos o fizeram ficar profundamente triste e envergonhado. Ficou imaginando quantos pássaros tiveram suas penas arrancadas para confeccionar suas lindas vestes. Nesse momento, lembrou do que sentira quando ouviu alguém dizer: 

          - Eu o depenaria. Suas roupas poderiam ser usadas no meu ninho. 

         Quando a noiteceu o pequeno príncipe foi para a cama pensando no passarinho que estava preso no palácio. Resolveu, então, que logo pela manhã mandaria soltá-lo. 

           Adormeceu e, mais uma vez, sonhou que estava preso numa gaiola dourada. Um grande pássaro apareceu e parou diante de sua gaiola e, com as garras, levantou o trinco abrido-lhe a porta!

           - Oh! que maravilha! chegou a hora de ser livre novamente. O pequeno soberano, emocionado, atirou-se ao espaço antes que aquele bondoso pássaro se arrependesse e o obrigasse a voltar para a gaiola. 

           Ficou um bom temo esvoaçando pelo quarto até encontra uma saída. Mas o importante é que estava livre novamente. Lágrimas de alegria rolaram de seus olhos e seu coração estava transbordando de felicidade. Seu coração sonhava com os campos e florestas que logo iria visitar.

          Finalmente consegui sair, mas era inverno e os jardins estava cobertos de neve que, em flocos, caia como se nunca fosse parar. Os pêssegos e as ameixas haviam desaparecido e o lago de lotos estava congelado, duro como um vidro. 

           O pequeno soberano nunca andara pela neve com tão pouca roupa. Durante o inverno, quando saía, usava roupas quentes, acolchoadas e nunca estava só; um criado carregava um pequeno fogareiro de porcelana, outro trazia um bule de chá quentinho, um terceiro segurava uma caixa envernizada com doces e o quarto trazia um grande  chapéu de palha para proteger sua cabeça da neve que caia permanentemente. Sentia-se tão pequeno e tão desamparado, num mundo tão grande e tão frio, mas, mesmo no inverno, ele poderia encontrar boa comida e água cristalina da montanha. Fico pensando onde poderia se aquecer. Correu pela neve durante algum tempo, deixando vestígios por onde passava. Suas pantalonas desamarraram-se e, cada vez mais, a neve lhe alcançava as pernas nuas. 

           Quando parou para descansar, viu  um bloco de neve despender-se de um galho de pinheiro e, se não tivesse pulado rapidamente, teria sigo esmagado. A situação ficava pior  à medida que o tempo passava. Começou a sentir-se  fraco e esfomeado. De vez em quando pedia socorro, mas sua voz trêmula era cada vez mais fraca. pestanejava frequentemente e suas lágrimas viravam gelo. Ele sabia que um soberano nunca devia chorar, mas que fazer se ele estava perdido, sem saber o rumo que devia seguir!

          Começava escurecer quando ele viu duas lanternas iluminando em sua direção. Imaginou que fosse algum criado ou o mordomo do rei, um senhor autoritário, mas bom. Talvez estivessem à sua procura e por isso traziam lanternas. O pequeno soberano tentou aproximar-se deles, mas estava tão cansado, tão enfraquecido que nem podia se mexer. 

          Qual não foi sua surpresa quando viu que aquelas duas lanternas, na verdade, eram os olhos de um animal enorme, agachado na neve,  um gato faminto!

          O pequeno príncipe, reunindo as forças que ainda lhe restavam, tentou correr. O gato, porém, de um puo, o alcançou e o agarrou com as patas almofadadas que, aos poucos, se transformaram em garras curvas, pontiagudas e frias. O gato, em seguida, deu-lhe uma pancadinha em um lado, depois no outro, e quando o menino pensou que i deixá-lo sossegado, ei-lo de volta para lhe aplicar um golpe forte, fazendo-o ver estrelas no meio daquela escuridão. 

          Naquele momento, porém, alguém o sacudia. Seria o gato, novamente? O Pequeno Rei abriu os olhos e viu uma senhora curvada sobre sua cama. Seu rosto estava estava estranho, parecia assutada. Aquela senhora pulara da cama assim que ouvira os gritos do pequeno soberano e, por isso, não tivera tempo de lavar o rosto e pintar as sobrancelhas de preto e os lábios de vermelho.

          - Acorde, acorde, meu Rei! Aquela senhora chorava ao mesmo tempo em que o sacudia para acordá-lo. - Foi um pesadelo, - acrescentou. 

          Você não é um gato? perguntou, enfim. Ainda não estava completamente acordado. 

          - Certamente que não, meu pequeno soberano! respondeu sua tia, um pouco ofendida. 

          O pequeno soberanos, desceu da cama. O quarto estava cheio de luz branca que vinha da  neve. O menino foi até a janela e viu que havia nevado muito durante a noite. As ameixas e as amoreiras estavam cobertas de neve que caia suavemente, tornando mais espessa a camada que já cobria os caminhos. As pessoas que por ali passavam, silenciosas e agasalhadas, pereciam estar calçados com sapatos de veludo branco.

             O pequeno Rei pensou no sonho e concluiu que, se soltasse o passarinho antes de terminar o inverno, ele sofreria, poderia até morrer. Foi, então, explicar ao pássaro por que não o soltaria naquela manhã. 

            - Quando o verão chegar eu o soltarei, disse-lhe. 

             Daquele dia em diante, o Pequeno Rei sempre levava folhar verde e frutas frescas para o passarinho bicar e, durante essas visitas, conversava gentilmente com ele. O passarinho parecia entendê-lo. Seus olhinhos tristes agora estava brilhantes e, embora não cantasse, chilreava, às vezes, como querendo dizer:

              - Muito obrigado. 

              Na primeira noite de verão, assim que a lua cheia começou a brilhar no firmamento, o Pequeno Rei foi dormir e sonhou, que a porta da gaiola estava aberta e ele em liberdade.

              Oh, quanta felicidade! Felicidade quase demasiada para uma criança suportar. As peônias estavam em flor, cada pétala uma grande concha. As borboletas azuis esvoaçavam ali sob os raios quentes e brilhantes do sol. Meio escondida na grama, o Pequeno Rei encontrou uma grande fruta purpúrea - uma amora! Como estava gostosa!

                  As teias de aranha, orvalhadas, brilhavam como uma escada celestial, cheia de lentejoulas, e haviam sido construídas para ele, como presente de aniversário. Como se sentia feliz! Tinha o sol para aquecê-lo, a brisa para apreciá-lo e as amoreiras para par alimentá-lo e as amoreiras para alimentá-lo.  Sabia que em cada pedaço de grama encontraria uma gota de orvalho, clara e cristalina, para beber. Como estava feliz!

                 O lago estava cheio de grandes folhas e de grandes flores de loto cor de rosa. O menino aventurou-se a remar em uma dessas folhas. Durante algum tempo ficou rodando, até alcançar uma flores. Ali, então, deixou-se ficar, feliz, tão feliz, a contemplar as borboletas gigantes, azuis e verde,  esvoaçando sobre sua cabeça, balançando, gentilmente, o rosado "barquinho" (folha de lótus).

               Agora, porém, não era a flor de lótus que o balançava nas águas. Era a sua tia que o sacudia gentilmente. 

              - Acorde, por favor, querido soberano! disse-lhe. E, embora parecesse impossível, era verdade; sua tia lhe sorria carinhosamente. O Pequeno Rei merecia aquele sorriso; ultimamente estava muito bondoso  com todas as pessoas do palácio. 

    Ao se levantar, porém, não quis esperar até depois do café para soltar o passarinho, que ansiosamente esperava na gaiola. Logo que se vestiu, tão depressa quanto pode, correu para o quarto onde estava pendurada a gaiola. Pã, pã, pã, faziam seus sapatos de cetim azul, enquanto ele andava pelos corredores. Puf, puf, puf, fazia o mordomo, gordo e idoso, que o acompanhava, com dificuldade.



              - Vim soltá-lo, murmurou enquanto levava a gaiola para fora.  Estava muito emocionado pelo seu próprio gesto. Por alguns momentos quis chorar, porque tinha adquirido uma grande amizade ao pequeno pássaro. Lembrou-se porém, que um Rei não deve chorar. Abriu a porta da gaiola e deu liberdade ao pequeno pássaro. 



               - O passarinho voou! gritaram os mandarins. 

              -  Já está tão longe que quase não o podemos ver, disseram as damas da corte que presenciavam aquele momento. 

                  Todos desejavam que o pequeno Rei deixasse de contemplar aquela pequena manch escura que se via no céu, cada vez mais alta distante que se via no céu. Queriam que  Rei finalmente pudesse entrar e tomar café.

         O pequeno rei, com a gaiola vazia nas mãos, olhava para o céu, olhava lá no alto, bem no alto do céu! Não podia, porém, ver mais nada. Ficaram, no entanto, no seu coração as notas de uma doce canção, de uma canção de amor e humildade, nascida em sua alma como um elo dourado a unir o coração de um passarinho ao de uma criança. 

QUEM AMA LIBERTA

Amar os animais é um sentimento muito nobre. 

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Adaptação de contos chineses, me dão muito prazer, especialmente para crianças. 

Nicéas Romeo Zanchett 



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