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quinta-feira, 14 de agosto de 2014

UM SEGREDO BEM GUARDADO - Nicéas Romeo Zanchett


                   Essa história aconteceu nos Pampas Gaúcho. 
                   Havia um velho fazendeiro que vivia com medo de feitiçaria. Um dia chegou em casa se mostrando muito assustado e sua mulher lhe perguntou o que estava acontecendo. Ele lhe respondeu:
                   - Trata-se de um segredo e não posso contar para que não se espalhe pela vizinhança.
                   - Mas você não confia na sua própria mulher? pode contar que da minha boca não sai nem pensamento.  
                   Sua mulher ficou muito curiosa e tanto insistiu que ele acabou contando uma história bem estranha. Disse ele: 
                   - Você não imagina o que aconteceu com a "Mocha", nossa vaca holandesa que mais dá leite; e continuou, tenho medo até de pensar, mas vou falar se me prometeres não contar a ninguém. 
                   - Imagine! tu sabes que sou um túmulo. Podes ficar tranquilo. 
                   - Está bem, mas olha lá se não vais dar com a língua nos dentes! Hoje, pela manhã fui até a estrebaria e qual não foi meu susto; a "Mocha" defecou um corvo bem preto que saiu voando; só pode ser feitiçaria da braba que mandaram pra nos prejudicar. 
                   - Nossa! meu amor. Pode ficar tranquilo que ninguém mais vai saber, pois da minha boca não sairá nem um pio. 
                   Mas o segredo ficou martelando o cérebro da gaúchinha. No dia seguinte, quando o marido saiu para campear, ela rumou imediatamente para a casa de uma amiga muito próxima. Chegou e foi logo dizendo: 
                   - Vim aqui falar contigo porque já não aguento mais; este segredo do meu marido está me torturando desde ontem. 
                   A amiga, que era a mais fofoqueira dos pampas, ficou tão curiosa que foi logo suplicando: 
                   - Contes logo senão quem morre angustiada sou eu.  
                   Está bem, mas tu vais me prometer que não contará a ninguém, nem a seu marido; e começou a contar ocorrido:  
                   - Imagine você que a nossa "Mocha", a melhor vaca leiteira de toda a região, está enfeitiçada; ontem ela defecou dois corvos, que airam voando, e deixou meu marido apavorado. 
                    - Nossa! isto é mesmo muito esquisito, mas fique tranquila que ninguém mais saberá; este segredo vou levar para o túmulo. 
                    Quando o marido chegou, ela não aguentou e contou-lhe:
                    - Gaudêncio, você não sabe da maior tragédia que aconteceu na fazendo do velho Simão. Vou te contar porque senão morro angustiada. Imagine você que a Maria esteve aqui e me contou que a vaca "Mocha" da fazenda deles defecou dez corvos pretos que saíram voando; trata-se de um poderoso feitiço que jogaram no velho Simão. Eu te contei porque és meu marido, mas é um grande segredo e não podes contá-lo a ninguém. 
                     - Nossa! que barbaridade the! E prometeu solenemente que não contaria a ninguém. 
                    No dia seguinte era domingo e todos costumavam se reunir no bar Ernesto depois da missa. O simpático gaúcho Gaudêncio, depois de tomar alguns tragos de cachaça, começou seu falatório. 
                      - Eu sei de um segredo que é uma bomba! mas não posso contar porque prometi pra minha mulher.
                      Não demorou muito e todos se achegaram pra perto do gauchão, insistindo que contasse. Ele então falou: 
                      - A fazenda do velho Simão está enfeitiçada. A vaca mais leiteira dele defecou sessenta corvos pretos que saíram voando pelos pampas. 
                      E dessa forma a notícia espalhou-se como plumas ao vento até que o padre do local foi chamado com urgência. Chamaram também o velho Simão para contar sobre o acontecido. Ele então explicou: 
                     - Na verdade, trata-se de uma brincadeira que fiz para conhecer o tamanho da língua da minha mulher; ela sempre se orgulhou de saber manter nossos segredos e vejam o que aconteceu. 
                     Quando a gaúcha soube da verdade mandou que o velho Simão fosse dormir na estrebaria. Três noites de castigo.
Nicéas Romeo Zanchett 

MORAL DA HISTÓRIA: Um segredo não se conta para ninguém; se mais de um souber logo todos saberão. 
                      
                  

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